JESUS NO CAMINHO DE EMAÚS


JESUS NO CAMINHO DE EMAÚS

Texto: Lucas 24:13-35    
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INTRODUÇÃO



Emaús era uma aldeia que ficava a 11 quilômetros de Jerusalém, e o acesso até lá se dava por uma estrada muito arenosa, com elevações íngremes e sem nenhuma pavimentação, em uma caminhada cansativa. O nome Emaús significa "águas quentes", possivelmente por haver naquele lugar águas termais.


1- EXPECTATIVAS FRUSTRADAS


Dois discípulos vinham andando por esse caminho no final de um domingo (V-13). Sentiam-se frustrados, decepcionados, abandonados, órfãos e ludibriados, porque tinham concentrado todas as suas esperanças na pessoa de Jesus e, juntamente com aquela comunidade de discípulos andantes que acompanhavam o Mestre, eles também nutriam a esperança de que quando chegassem a Jerusalém, o reino de Deus seria implantado.


Imaginavam que quando Cristo chegasse naquela cidade, Jerusalém, o milagre aconteceria, ou seja, todas as mentes dos judeus se abririam e discerniriam que o Deus Emanuel estava entre eles. Pensavam, também, que o Messias chegaria e estabeleceria uma nova ordem, pondo fim ao domínio do Império Romano. “Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel (...)” (V-21) ‭


Ao contrário de todas as expectativas dos discípulos, vale a pena abrir um parêntese para dizer que as expectativas eram apenas deles, não de Jesus, que já lhes profetizara várias vezes que quando o filho do homem chegasse em Jerusalém haveria de ser preso, açoitado, espancado, humilhado, julgado, condenado e morto, mas ressuscitaria ao terceiro dia. “É necessário que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, seja crucificado e ressuscite no terceiro dia.”
‭(‭Lc ‭24:7‬)


As mentes dos discípulos, entretanto, estavam fechadas para essa afirmação realista. Eles se concentravam naquilo que o coração deles queria, a saber, na realização de um sonho utópico. O coração deles queria o que todo mundo quer, ou seja, harmonias profundas e felicidade eterna. Contudo, quando eles chegam a Jerusalém cumpre-se a profecia de Jesus, a qual eles haviam escutado sem ouvir, sem guardar.


Eles naufragam, submergem completamente na sua fé. Uns fogem, outros negam, outros simplesmente silenciam e outros ficam com raiva de Deus, magoados, tristes. Esses dois, Cléopas e o seu companheiro, saem de Jerusalém naquele domingo a caminho de Emaús que representava um retrocesso na fé.


O texto claramente nos fala de duas pessoas entristecidas, decepcionadas, amarguradas e machucadas. “(...) Eles pararam, com os rostos entristecidos.” ‭(V-17) Os discípulos vêm falando a respeito dos últimos acontecimentos. Há uma dor enorme em seus corações, uma incompreensão, como aquela de alguém que sente que deixou tudo pra trás por uma grande causa que, ao fim, não era nada ou que não deu em nada. Contudo, enquanto eles discutem no caminho o próprio Jesus aparece a eles e caminha com eles (V-15), porém "os seus olhos foram impedidos de reconhecê-lo" (V-16) por algumas razões:


2- POR QUE OS DISCÍPULOS NÃO FORAM CAPAZES DE RECONHECER JESUS?


2.1 - A mente deles não estava preparada para reconhecer o Mestre.



Quando a mente não está preparada, nem nossos pais e nem as pessoas que mais estimamos têm aceitação imediata quando chegam a nós. Se a mente estiver preparada para negar fatos e realidades, certamente nem a revelação mais óbvia encontra lugar em nossa mente com facilidade. Os discípulos não reconheceram o Senhor porque a imagem que estava impregnada em suas mentes era do sofrimento e morte de Jesus.


2.2 - A ressurreição apaga todas as marcas do tempo.


Eu, por exemplo, uso óculos, crio espinhas no rosto, emagreço e engordo porque não estou ressuscitado. Mas se estivesse ressuscitado eu não teria óculos, espinhas e não sofreria variações de peso. Eu não estou ressuscitado e todas as marcas do tempo e da mortalidade agem sobre mim. Se eu estivesse ressuscitado nunca estaria nem gordo nem magro, estaria perfeito, e isso é longe de ser o que sou.


Mas imagine se eu ressuscitasse com todas as configurações semelhantes às de Jesus, onde o corruptível dá lugar ao incorruptível e onde todas as marcas do tempo são apagadas pelas feições do Eterno. Aí você olharia para mim e diria: "Parece com ele mas não é", ou "Tenho a impressão que conheço, mas há alguma coisa diferente", e é essa experiência que os discípulos no caminho de Emaús estão tendo.


“Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles.” ‭(‭V-15‬)
É nesse momento que Jesus entra em cena e pergunta sobre o que eles estão falando. Eles param irritados e “Um deles, chamado Cleopas, perguntou-lhe: “Você é o único visitante em Jerusalém que não sabe das coisas que ali aconteceram nestes dias?” (V-18) Era como se eles perguntassem: "Passastes a sexta-feira lá? O sábado... domingo? Não sabes o que aconteceu? Não sabes quais são as últimas notícias?" Jesus pergunta: "Quais? Contem pra mim, refresquem a minha memória" (V-19).


Disseram os discípulos: “O que aconteceu com Jesus de Nazaré”, responderam eles. “Ele era um profeta, poderoso em palavras e em obras diante de Deus e de todo o povo. Os chefes dos sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram; e nós esperávamos que era ele que ia trazer a redenção a Israel. E hoje é o terceiro dia desde que tudo isso aconteceu. Algumas das mulheres entre nós nos deram um susto hoje. Foram de manhã bem cedo ao sepulcro e não acharam o corpo dele. Voltaram e nos contaram ter tido uma visão de anjos, que disseram que ele está vivo. Alguns dos nossos companheiros foram ao sepulcro e encontraram tudo exatamente como as mulheres tinham dito, mas não o viram.” (‭Lc ‭24:19-24‬)


3 - A SÍNDROME DE EMAÚS


Aí Jesus começa a dizer: “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!” (V-25) O termo grego usado aqui para "néscios" significa tardos de coração, embotados de percepção e atrasados nos seus sentimentos. Era como se Jesus estivesse dizendo: "Vocês são embotados e atrasados. Vocês não encontraram o sincronismo entre o mundo emocional de vocês e a história".


E é justamente isso que eu quero falar com você hoje. Eles estão diante de Jesus ressuscitado e não conseguem tirar proveito deste encontro por uma razão simples: "o tempo, o time, a cronologia da história nem sempre coincide com a cronologia da psiquè, da alma."


A história já os colocava num domingo à tarde, mas a alma deles ficara presa ao sentimento da sexta-feira da crucificação. E conquanto seja domingo da ressurreição, a alma ainda é vítima de um atraso, da dor, da frustração. Eles não conseguiram acompanhar o ritmo da ação de Deus na história e ficaram cativos da depressividade de dias anteriores, de um evento que para eles teve uma interpretação fulminante, destrutiva.


A razão pela qual eu acho tão significativo a história de Emaús tem haver com o fato de que, com extrema frequência, nossa alma se atrasa em relação aos passos e as ações de Deus na nossa história. Quando nossa alma se atrasa, Deus aparece e nós não vemos, fazemos perguntas, respondemos de modo malcriado e pensamos que é Deus o alienado. O Senhor faz de tudo para ver se nos arranca do fundo do poço e a gente faz questão de ser sempre solidário com a nossa própria miséria e não sair do lugar.


Aí ele vem e diz: "Vocês são embotados, os sentidos de vocês estão amortecidos, e a alma de vocês se atrasou, parou no tempo e no espaço." Eu vejo pessoas todos os dias vivendo essa realidade, essa síndrome de Emaús. Isso pega! E quem são essas pessoas? São aquelas que mantêm lealdade para com as tragédias do passado, são indivíduos (homens e mulheres) que fazem questão de dizer com frequência que foram enganados, e que não dão a chance de que os novos atos de Deus lhes prove o contrário, de que aquilo que eles pensavam pode ter sido um engano e, na verdade, nada mais era do que o plano divino para os colocar diante de um fato maior, não apenas lhes dar acessos a uma experiência de felicidade momentânea, mas abrir para eles o caminho da eternidade.


Muito mais fantástico do que ver Jesus reinando sobre a Jerusalém terrestre é ter certeza de que nos foi aberta a porta da Jerusalém eterna, mas eles não conseguiam ver isso.


Talvez você esteja sofrendo da síndrome de Emaús. É possível que haja pessoas entre nós presas ao passado, gente que se vestiu de luto e se nega a tirar essa roupa. Gente que foi tocada por uma tragédia e não consegue esquecer essa confissão e repete, repete... alguém que foi abandonada numa relação afetiva, amorosa e passa o resto da vida dizendo "sou desprezada", não importa se o anjo Gabriel se fez gente e está querendo casar contigo hoje, ela não consegue ver.


Quando Jesus provoca os discípulos, eles olham para ele, e dizem "Tu és o único que tendo estando em Jerusalém, ignoras as ocorrências dos últimos dias." (V-18) A pergunta que Jesus lhes faz é de uma sutileza extraordinária. "Quais? Contem pra mim!".
Eles contam a história da sexta-feira. Jesus diz: "Vocês estão enganados, as portas da tumba se abriram e eu sai ressuscitado de entre os mortos. Essas são as últimas notícias!".


Em Emaús Jesus evoca pra si o direito de contar pra nós as últimas notícias. Esqueça as notícias que você acha que sabe, pode ser que você esteja lendo um jornal velho de papel amarelado. Pode ser que você seja colecionador de álbuns antigos e trágicos, dê a chance do Senhor introduzir os fatos novos, falar para você das notícias de hoje, do que aconteceu hoje cedo, porque você pode chorar uma noite inteira mais a alegria vem ao amanhecer, e com ela vem a ressurreição.


Em Emaús nós somos chamados para ré-sincronizarmos nossa alma com as ações de Deus. Somos convocados a abandonarmos essa negativa e maligna solidariedade para com a dor, o luto e a escuridade, e atualizarmos nossos sentimentos com as ações de Deus hoje. Essas são as pessoas mais felizes, aquelas que todos os dias tentam atualizar o "sentir" com a "fé". Se isso não ocorrer a "fé" nos abrirá portas para conquistas extraordinárias, mas o "sentir" estará enterrado no luto e não conseguiremos nos apropriar do que Deus está fazendo por nós hoje.


CONCLUSÃO


Vamos orar e pedir que o Senhor abra os nossos olhos para que possamos ver e discernir Sua presença. Que possamos atualizar nosso coração com a ação de Deus em nossas vidas! Que não fiquemos leais às derrotas do passado, e que, pela fé, possamos assumir aquilo que o Senhor tem feito hoje a nosso favor! Que não sejamos repetidores das notícias da sexta-feira à tarde no dia da crucificação, mas tenhamos as boas-novas do domingo da ressurreição!


PR. CÉSAR BRAGA

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